segunda-feira, 4 de junho de 2012

O amigo que dourou minhas lágrimas


O meu grande amigo de todos os tempos, o poeta e polêmico jornalista Carlos Magno anda destilando suas loas e pinceladas sobre várias histórias de Frei Paulo, a cidade onde a gente nasceu e nos tornaremos imortais, num futuro que espero esteja bem distante.

O poeta e jornalista está com a palavra afiada, costurando em detalhes de linha de ouro muitas das histórias freipaulistanas, em seu site Papagaio. Dia destes ele falou sobre meu pai, volta e meia enche caçuás de elogios sobre minha família, numa demonstração do apreço, da amizade, do carinho e da ternura que sente por mim, cuja recíproca é deverasmente tamanha.


Deparei-me ontem com mais uma pérola poética do Carlos Magno em seu blog, tocando a sua arte de escrever, para me encher de elogios e lembranças. Sou ruim de chorar, mas um rio de saudade invadiu todo o meu leito quando fui catando os gravetos do seu belo texto, e fui construíndo a minha fogueira de vaidades ou meu mar de lembranças.
Bateu no coração aquela doce saudade de nossas peripécias nas ruas e nas matas de Frei Paulo, mais tarde alicerçadas na nossa vida de artista e intelectual em Aracaju. 


Valeu, Magno, vai na íntegra, abaixo, tudo que você falou sobre mim, e acho que não mereço tanto. Você provou que, além de um grande  amigo, é também um irmão meu. (SÉRGIO SANTOS)


 

UM GRANDE AMIGO

 
Ele é um bom exemplo de que as boas amizades são para toda a vida. Sérgio Santos era o meu melhor amigo de infância, em Frei Paulo. Parece que foi ontem, caminhávamos fagueiros pelas veredas tortuosas que nos conduziam ao açude de Zezé de Dona Rosa, onde campos vastos se descortinavam sob o cheiro de curral e revoada de vira-bostas, entre arvoredos típicos da caatinga. Pé ante pé, na tentativa de capturar cigarras. Na quaresma o canto desses grandes insetos exercia sobre nós um fascínio. A paisagem lembrava filmes medievais e ao cair da tarde, no crepúsculo, elas ficavam mais fáceis de serem capturadas. Preocupando-se tão somente em cantar. Às vezes, achávamos algumas mortas, agarradas ao caule avermelhado dos arranhentos, pipocadas pelas costas de tanto cantar na jurema.
Gostava da companhia de Sérgio de Zé Pequeno porque ele era um cara sensível e romântico, gostava de vê-lo discorrer sobre suas paixões, sempre amores platônicos que ele num caderno os exortava em prosa e versos. Sua caligrafia irrepreensível e imaginação fértil, o faz cunhar neologismos e nos encantar com um poema novo a cada instante. Ele não teve o privilégio de estudar no Educandário como os demais, ele estudava no Grupo Martinho Garcez, sua sede de saber extrapolava. Sempre muito curioso e inteligente, tímido, dava show de conhecimentos gerais.
Um rapaz de ótimo caráter, honesto e amigo no qual se poderia confiar para qualquer confidência, principalmente quando o assunto era namoro ou uma paixão secreta. Parece que só tinha olhos para enxergar o lado bom das pessoas. Mas tinha também o seu lado obscuro, quando alguém pisava nos seus calos, não contava conversa, partia pra cima e baixava porrada. Assim eram todos os filhos de Zé Pequeno, afinal foram instruídos para isso, o velho sempre os orientou a nunca levar desaforo pra casa. Sérgio era um entusiasta das boas idéias, participante ativo do grupo jovem.
Foi junto com ele que comecei a escrever no jornal “O Ajo”, veículo de comunicação mimeografado que era um sucesso na cidade nos anos 70, o jornal era impresso na casa das freiras ali na Av. José da Cunha. Escrevíamos de tudo, poemas, crônicas, notícias e até as fofocas que davam o maior ibope ao jornal. Mas a nossa postura crítica pedia algo mais. Por coincidência nos mudamos para Aracaju quase no mesmo ano, em 1977, por aí, e fomos estudar no Colégio Estadual Atheneu Sergipense, onde nossa visão se ampliou.
Passamos a integrar o movimento secundarista, viajamos juntos para o Rio de Janeiro em 1982 quando participamos da SBPC, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Uma experiência gratificante que abriu novos horizontes para nossas vidas. Eu e Sérgio lançamos um jornal em Frei Paulo “Aranha da Comunicação” no qual passávamos uma vanguardista visão crítica na política local. As perseguições por conta disso foram implacáveis pelos poderosos da época, de maneira que só publicamos quatro números desse jornal, vivíamos a época da transição da ditadura militar para a democracia.
Há poucos dias o encontrei e como sempre é um prazer rememorar nossas aventuras intelectuais, nossa velha amizade continua viva, apesar do destino que insiste em nos levar por caminhos opostos. Uma das coisas que nos une e exerce sobre nós um nobre fascínio é o incondicional amor a nossa terra natal, nossa querida e amada Frei Paulo.

segunda-feira, 19 de março de 2012


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